Transplantes de órgãos esbarram em negativa de famílias


Estudo do MP aponta dificuldade de  convencimento como maior obstáculo

     A doação de órgãos para transplantes no Rio Grande do Sul continua a esbarrar num obstáculo emocional: a negativa das famílias traumatizadas com a perda. A dificuldade de sensibilizar os parentes ajuda a explicar o fato de o número de doadores estar caindo, ano após ano.


     Em 2007, foram 13,6 doadores por milhão de habitantes. Já no ano passado, o número baixou para 11,7 por milhão. Mas esse não é o único fator a contribuir para a queda de doações no Estado, que já liderou o ranking (hoje está em sexto lugar).
     Conforme estudo realizado pelo Ministério Público Estadual e pela Fundação de Economia e Estatística, o sistema de transplantes gaúcho esbarra em algumas dificuldades técnicas, como a falta de equipamento de diagnóstico de morte encefálica por parte de alguns hospitais.

     “Vejo uma estabilização nas doações no Rio Grande do Sul, enquanto o número de doadores cresce nos outros Estados. Vamos sugerir providências”, afirma o promotor Francesco Conti, coordenador do Centro de Apoio dos Direitos Humanos e um dos responsáveis pela pesquisa.

     Lista de dificuldades será levada à Secretaria da Saúde

     O diagnóstico elaborado pelo MPE será entregue hoje (28/03) ao secretário estadual da Saúde, Ciro Simoni. O estudo contou com a colaboração da ONG Via Vida, que se dedica aos transplantes.

     O trabalho revela duas aparentes contradições. A primeira é que, apesar de estar caindo o número de doadores no Estado, o de órgãos transplantados aumenta a cada ano. De 275 órgãos e tecidos implantados em 1996, o número pulou para 1.248, em 2005, e subiu para 1.433 no ano passado. A explicação é simples. Bem-azeitada e treinada, a Central de Transplantes realiza um trabalho eficaz, quando é concretizada a doação.
     “Quando conseguimos fazer um bom trabalho de convencimento junto aos familiares dos doadores, obtemos um bom aproveitamento dos órgãos. Talvez seja necessário realizar um trabalho melhor na ponta do sistema, nos hospitais”, avalia a coordenadora da Central de Transplantes, a enfermeira Heloísa Perrenaut Foernges.
     A presidente da ONG Via Vida, a psicóloga Maria Lúcia Elbern acredita que existe muita falha na abordagem:

     “Muitas vezes, a entrevista com os parentes do potencial doador é mal conduzida, com falta de humanização no trato”.
     A segunda curiosidade é que, ao contrário do que ocorre no Estado, no país o número de doadores tem aumentado. A média era de 6,3 por milhão de habitantes (em 2005) e passou para 9,9 por milhão (em 2010). O promotor Francesco Conti diz que, talvez, outras regiões tenham implementado políticas novas nesta área da saúde.


    
Fonte: Zero Hora, 28/03/2011, p. 30 

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