Uso das mídias sociais na ciência
Cientistas defendem que seus pares utilizem plataformas como Facebook, Twitter e YouTube para informar sobre resultados de pesquisas e se aproximar mais da população geral. (foto: AAAS) |
Por Heitor Shimizu, de Boston
Agência FAPESP – O uso de Twitter, Facebook, YouTube e outras mídias
sociais para a divulgação de informações sobre pesquisas científicas foi
defendido pelos participantes de um painel sobre comunicação em ciência na reunião anual da
American Association for the Advancement of Science (AAAS), realizada de 14 a 18
de fevereiro em Boston, Estados Unidos. O detalhe é que os painelistas eram não
apenas comunicadores, mas também cientistas.
Entre os dados apresentados está que a internet ultrapassou os jornais como a
segunda maior fonte de notícias (após a televisão) para o público geral nos
Estados Unidos. Mas, no caso de informação científica e para quem tem menos de
30 anos, a principal fonte são os veículos on-line.
“Se os cientistas não estão utilizando as mídias sociais, eles simplesmente
não estão se comunicando com a maioria da população”, disse uma das
palestrantes, Christie Wilcox, do Departamento de Biologia Celular e Molecular
da Universidade do Havaí.
“Mais de 680 mil atualizações de status por minuto são compartilhadas pelo
Facebook. Em um segundo, o YouTube recebe uma nova hora de vídeo e o Twitter, 4
mil novos tweets.
"Você pode atingir milhares de pessoas com um único
tweet, mas consegue falar com apenas um punhado de pessoas em um dia”,
disse.
Até aí, nada de novo, mas o ponto principal é que os cientistas estão
atrasados nessa tendência. Apesar do elevado nível de escolaridade e
familiaridade com o uso de computadores e de tecnologia, em grande parte dos
casos, os pesquisadores estão utilizando menos as redes sociais do que a
população geral, de acordo com Wilcox.
“Um levantamento com chefes de laboratório apontou que mais da metade não
tinha contas em serviços de mídias sociais. Sem esse alcance, cientistas ficam
limitados a quantas pessoas eles podem atingir. Se você está fora das mídias
sociais, pode fazer muito barulho, mas poucos serão os que o ouvirão”,
disse.
“Quando um cientista escreve um livro a respeito de sua pesquisa, as pessoas
que o comprarem serão pessoas interessadas em ciência. São importantes, mas
compõem apenas uma pequena parte da população. Por isso, é fundamental atingir
aqueles que ainda não se interessam por ciência”, disse outra palestrante, que
atende pela alcunha “Scicurious”, com o qual assina um popular blog científico
na revista Scientific American.
Com doutorado e pós-doutorado em neurociências, Scicurious salientou que as
mídias sociais ajudam a tornar a ciência uma experiência mais próxima do público
geral e podem dar aos pesquisadores uma possibilidade de mostrar “sua
personalidade fora do laboratório”.
“A maior parte dos cientistas pode não ter tempo de manter um blog, mas
felizmente plataformas como o Facebook oferecem maneiras eficientes de
compartilhar informações científicas. Com 67% dos internautas usando o Facebook,
os pesquisadores têm ali uma forma de atingir uma rede de pessoas com a qual, de
outra forma, não poderiam se comunicar”, disse.
Otimismos à parte, a palestrante Dominique Brossard, professora de
Comunicação na Universidade de Wisconsin em Madison, concordou com a importância
das mídias sociais, mas sugeriu cautela na utilização dessas formas de
comunicação para a transmissão de informações científicas.
Em um artigo publicado no Journal of Computer Mediated Communication,
Brossard concluiu que o tom dos comentários em um blog ou em um post
influencia a percepção dos leitores.
“O ponto principal é que a publicação em mídias sociais é uma comunicação
bidirecional. Cada publicação pode vir acompanhada de comentários, que podem ser
favoráveis ou contrários ao que se está informando”, disse.
De acordo com Brossard, quando comentários sobre uma pesquisa mencionada em
redes sociais são rudes ou depreciativos, os leitores se tornam mais propensos a
adotar um ponto de vista negativo a respeito do estudo. “Mas uma série de regras
ou diretrizes de uso de mídias sociais, nesse caso, pode mitigar o problema e
levar a melhorias na etiqueta on-line”, disse.
FONTE: Agência FAPESP, 20/02/2013
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