Pesquisadora americana fala sobre os efeitos da meditação
JULIANA VINES
de São Paulo
de São Paulo
As últimas pesquisas sobre meditação a relacionam com a melhora nos
sintomas da ansiedade, da depressão e até de doenças crônicas como
artrite. Para Sara Lazar, pesquisadora em neurociência, não é exagero
usar a prática milenar como tratamento.
Lazar, pesquisadora do Departamento de Psiquiatria do Massachusetts General Hospital, em Boston (EUA), esteve quinta-feira (14) no Brasil para o
Seminário Internacional Neurociência e Meditação, realizado pela
Associação Palas Athena com apoio do Hospital Israelita Albert Einstein
(a inscrição pode ser feita no site www.palasathena.org.br e custa R$
120).
A neurocientista americana medita desde 1994 e é pioneira no uso de
imagens da atividade cerebral para investigar os efeitos da prática.
Em 2011, seu grupo publicou estudo mostrando que oito semanas de
meditação são capazes de aumentar a massa cinzenta em certas regiões do
cérebro, mesmo em pessoas sem experiência anterior.
À Folha, ela fala sobre os benefícios da prática.
*
Folha - Quais são os principais benefícios da meditação?
Sara Lazar - A meditação reduz o estresse e pode diminuir os
sintomas de algumas doenças. Há boas evidências associadas à depressão.
Mas pessoas com distúrbios psiquiátricos graves, como transtorno bipolar
ou esquizofrenia, devem ser cautelosas e praticar no máximo de cinco a
dez minutos por dia.
A meditação pode vir a ser usada como tratamento?
Sim, há muitas pesquisas que mostram isso. A prática reduz sintomas, mas
não cura completamente essas doenças crônicas. É uma terapia
complementar, e não alternativa. Significa que deve ser feita em
conjunto com tratamentos da medicina convencional, não no lugar deles.
Quanto tempo é preciso meditar para ter algum resultado?
No estudo (de um programa de oito semanas), os indivíduos foram
orientados a praticar 40 minutos por dia, todos os dias. Algumas pessoas
fizeram isso, mas outras praticavam menos tempo. A média foi de 27
minutos por dia. Não se sabe qual é o tempo mínimo para que se tenham
mudanças no cérebro. Outros pesquisadores descobriram que até 10 minutos
diários podem ser úteis.
Esse seu estudo mostrou que há um aumento de massa cinzenta. Como isso acontece?
Não sabemos exatamente. No entanto, estudos com animais indicam que,
quando alterações semelhantes acontecem, três tipos de mudanças
cerebrais podem ser detectadas. Primeiro, há mais conexões entre os
neurônios. Em segundo lugar, pode haver mais vasos sanguíneos ou um
aumento no diâmetro dos vasos nas áreas afetadas. Finalmente, pode haver
um aumento das "células auxiliares", tais como as células gliais (dão
suporte aos neurônios). Há um aumento da atividade cerebral.
É como se a pessoa exercitasse o cérebro meditando?
De forma coloquial, sim.
O aumento de volume em áreas do cérebro está ligado a mudanças comportamentais?
É outra coisa que não sabemos. A questão agora é entender o que essa
mudança na massa cinzenta significa. Estamos fazendo outro estudo. Já
sabemos que alterações na amígdala são relacionadas com redução do
estresse.
Por que a técnica "mindfulness" (atenção plena) é a mais usada nas pesquisas?
Muitas técnicas de meditação são úteis, mas há um programa de oito
semanas desenvolvido há muitos anos e que usa a atenção plena. A técnica
pode ser definida como prestar atenção ao momento presente. Basta a
pessoa se concentrar em uma experiência sensorial (som, tato, olfato).
Não se deve pensar sobre o que está produzindo a sensação ou julgar se
você gosta ou não, apenas sentir. Isso é atenção plena.
O relaxamento obtido com a meditação teria o efeito de uma boa noite de sono?
Há semelhanças, mas não é a mesma coisa. O sono não produz alteração no
cérebro, não melhora estresse, a ansiedade ou a depressão.
Sara Lazar
IDADE
45 anos
FORMAÇÃO
Biologia na Universidade Johns Hopkings e PhD na Universidade Harvard
ATUAÇÃO
Instrutora em psicologia na Harvard Medical School e pesquisadora associada do Massachussetts General Hospital na área de neurociência
ÁREA DE INTERESSE
Estuda meditação desde 1998, pratica desde 1994 e não se considera religiosa
FONTE: Folha de São Paulo, 12/03/2013
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentário: